Embora os debates em torno de liderança feminina estejam cada vez mais em alta, a baixa representatividade de mulheres em cargos de poder, muitas vezes gera um equívoco: o de que as mulheres devem imitar os homens quando se trata do ambiente corporativo.
Segundo a Harvard Business Review, um pensamento comum é: “Se os homens têm a maioria dos papéis principais, eles devem estar fazendo algo certo, então por que não fazer as mulheres agirem como eles?”
Contudo, o fato é que essa lógica acaba por reforçar uma série de comportamentos prejudiciais da maioria dos líderes – que, inclusive, são predominantemente homens.
Neste artigo, trago 7 ensinamentos de liderança feminina para profissionais, organizações e, especialmente, para homens. Afinal, se queremos que algo mude, é preciso começar por eles. Vamos lá?
Onde está a liderança feminina?
Quando falamos sobre liderança feminina, além de abordar uma necessidade latente e urgente para o mercado de trabalho, também estamos falando sobre dados desanimadores.
O relatório sobre igualdade de 2020 do Fórum Econômico Mundial aponta que a equidade de gênero no ambiente de trabalho ainda é uma realidade distante. Um outro estudo da Folha de S. Paulo, realizado em 2015, identificou que as mulheres ganharão o mesmo que os homens apenas em 2085.
O estudo do FEM ainda estima que serão necessários aproximadamente 250 anos para que haja igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Na melhor das hipóteses, caso haja um desenvolvimento acelerado, esse número cai para 94,5 anos.
No entanto, segundo outro levantamento, realizado pelo IPEA, as mulheres trabalham, em média, três horas por semana a mais do que os homens, combinando trabalhos remunerados, afazeres domésticos e cuidados de pessoas.
Esses são apenas alguns dos tantos dados que comprovam que o caminho rumo à equidade de gênero ainda é cheio de desafios, contradições e empecilhos.
Diversidade e representatividade nas organizações
Mesmo diante desse cenário, temos dados que reforçam a tamanha contribuição da liderança feminina para as organizações.
Segundo a Peterson Institute for International Economics, companhias que aumentaram a presença de mulheres em até 30% nos cargos de alta liderança tiveram um aumento de 15% em sua rentabilidade.
Além disso, já é comprovado que, para muitos consumidores, a pauta da diversidade e representatividade é levada a sério na decisão de virar ou não cliente.
É o que aponta uma pesquisa realizada pela Accenture: 46% dos compradores preferem empresas que apresentam pessoas diversas em seu quadro de funcionários.
Essas pessoas, inclusive, são capazes de pagar um adicional de 5% no valor final do produto caso percebam que a diversidade é de fato prioritária para as corporações.
Outro estudo da Kantar também destaca que, no Brasil, 41% dos consumidores se sentem muito confortáveis em ter uma mulher CEO de uma empresa.
Na avaliação que mede de 0 a 100 o nível de conforto que a sociedade sente em ter mulheres e homens em posições de liderança, o Brasil se destaca entre os países do G7, com 66 pontos.
O Brasil está à frente de países como a Rússia (53) e a China (48), os piores colocados.
Contudo, este ainda é um número inferior a nações com maior incentivo na inclusão feminina, como o Canadá e a França, que chegam a 77 pontos.
7 lições que líderes podem aprender com a liderança feminina
As primeiras executivas mulheres da história, por estarem desbravando novos caminhos, aderiram a muitas das “regras de conduta” que significavam sucesso para os homens.
Agora, uma nova onda de mulheres está chegando ao poder, deixando de lado o estilo e os hábitos que deram certo para os homens, e abraçando habilidades e atitudes que desenvolveram a partir de sua experiência compartilhada como mulheres.
Com isso em mente, em vez de encorajar as mulheres a agirem como líderes homens ou, pior ainda, fechar os olhos para a questão da equidade de gênero nas organizações, devemos adotar outra estratégia.
É preciso conscientizar a liderança predominantemente masculina e incentivar homens no poder a adotarem alguns dos comportamentos de liderança mais eficazes, comumente encontrados em mulheres.
Isso pode ajudar a criar um debate produtivo nas empresas, construindo um ambiente muito mais equânime a partir de um conjunto de mindsets e comportamentos que abrem caminho para que homens e mulheres competentes avancem.
Assim, aqui estão algumas lições de liderança que a maioria dos homens pode aprender com a grandes líderes mulheres, elencadas pela Harvard Business Review:
1- Incentive a participação
A inclusão está no cerne da liderança. As líderes entrevistadas na pesquisa fizeram referência à tentativa de fazer as pessoas se sentirem parte da organização.
Elas tentam incutir essa identidade de grupo de várias maneiras, incluindo encorajando outros a ter uma palavra a dizer em quase todos os aspectos do trabalho, desde o estabelecimento de metas de desempenho até a determinação da estratégia.
Para facilitar a inclusão, elas criam mecanismos que levam as pessoas a participarem e usam um estilo de conversação que convida as pessoas a se envolverem.
2- Conheça suas próprias limitações
Vivemos em um mundo que celebra a autoconfiança, mas é muito mais importante ter autoconsciência, e muitas vezes há um conflito entre os dois.
O fato é que uma boa dose de autoconsciência dá a capacidade de identificar as lacunas entre onde as mulheres querem estar e onde realmente estão. E o mesmo raramente se aplica a homens, que possuem um grau de autoconfiança mais elevado, segundo estudos.
Pessoas que se veem de uma forma mais crítica do que as outras são mais capazes de se preparar, mesmo que isso signifique se preparar demais. Essa é uma forma sólida de aumentar a competência e desempenho.
3- Motive por meio da transformação
De acordo com a HBR, estudos acadêmicos mostram que as mulheres são mais propensas a liderar por meio da inspiração, transformando as atitudes e crenças das pessoas e alinhando as pessoas com significado e propósito.
Visto que a liderança transformacional está ligada a níveis mais elevados de engajamento, desempenho e produtividade da equipe, esse é um caminho crítico para melhorar o desempenho dos líderes.
Se os homens investissem mais tempo tentando cativar as pessoas e nutrindo uma mudança nas crenças ao invés de nos comportamentos, eles seriam melhores líderes.
4- Compartilhe poder e informações
Para fazer com que as pessoas se sintam incluídas é importante que a comunicação seja aberta. Mulheres dizem que compartilham o poder e as informações de boa vontade, em vez de guardá-los, e deixam claro seu raciocínio por trás das decisões.
Isso ajuda a criar lealdade, confiança e respeito às diversas ideias. Também serve de exemplo para outras pessoas e, portanto, pode melhorar o fluxo geral de comunicação.
Além disso, compartilhar poder e informações também dá aos funcionários e colegas de trabalho os meios para chegar a conclusões, resolver problemas e ver a justificativa para as decisões.
5- Coloque seu time à sua frente
É muito difícil transformar um grupo de pessoas em uma equipe de alto desempenho quando seu foco principal é você mesmo.
Pessoas que veem a liderança como um destino de carreira glorificado e realização individual são muito egocêntricas para promover o bem-estar de suas equipes e desbloquear o potencial do time.
Pessoas que só estão interessadas em um salário maior, um cargo mais renomado ou qualquer forma de status estão menos interessadas em tornar os outros melhores. Seu único objetivo é serem mais bem-sucedidos.
De acordo com a HBR, como os homens geralmente são mais focados em si mesmos do que as mulheres, é mais provável que liderem de maneira narcisista e egoísta.
6- Não imponha, conecte-se
Ao longo da história, dissemos às mulheres que elas são muito gentis e atenciosas para serem líderes, mas a noção de que alguém que não é gentil e atencioso pode liderar com eficácia está em desacordo com a realidade.
A liderança do século XXI exige que os líderes estabeleçam uma conexão emocional com seus colaboradores. Os homens podem aprender muito sobre como fazer isso com eficácia observando e imitando as mulheres.
7- Concentre-se em elevar os outros
É comprovado que as líderes mulheres têm mais probabilidade de treinar, orientar e desenvolver seus subordinados diretos do que os líderes homens. Elas são verdadeiras agentes de talentos, usando feedback e direção para ajudar as pessoas a crescer.
Isso significa ser menos transacional e mais estratégico no relacionamento com os funcionários e também inclui a abertura para contratar pessoas melhores do que elas, porque seus egos têm menos probabilidade de atrapalhar.
Isso permite que revelem o potencial de outras pessoas e promovam uma cooperação eficaz em suas equipes.
O que levar desta leitura?
Se você é homem e ler isso te aborrece, pergunte-se o porquê. Essa reação está impedindo que você aprenda com as mulheres o que você pode fazer para ter mais sucesso.
O sucesso das mulheres mostra que um estilo de liderança não tradicional pode aumentar as chances de uma organização sobreviver em um mundo incerto. O fortalecimento da liderança feminina reforça que há força em uma diversidade de estilos de liderança.
Assim, para homens, essas lições aceleram o desenvolvimento de sua liderança. Para mulheres, esses são somente alguns dos motivos pelos quais a liderança feminina já deveria ter sido alavancada nas organizações.
Implementando essas lições, existe um caminho para diminuir lacunas entre mulheres, homens e poder.
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Por Priscilla Flecha, sócia-diretora da Crescimentum