Existe uma crescente discussão sobre liderança feminina e representatividade nas empresas. Cada vez mais, vemos esforços para que a diversidade esteja presente em organizações, tornando o mundo corporativo cada vez mais inclusivo e equilibrado.

No entanto, quando falamos sobre liderança feminina, os dados ainda não são satisfatórios e nos mostram que há um longo caminho a ser percorrido. 

A Leroy Merlin deu início a um projeto a fim de construir um ambiente com mais equidade de gênero e nos deu o exemplo de como esse movimento traz benefícios para as organizações e colaboradores. 

Sobre a Leroy Merlin

Consolidada no Brasil desde 1998, a Leroy Merlin é especializada em construção, acabamento, bricolagem, decoração e jardinagem. A excelência em atendimento e variedade de produtos fazem com que a empresa seja uma grande referência do mercado. 

Segundo os dados da  Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (ANAMACO), a Leroy Merlin é líder do mercado varejista da Home Center. São mais de 80 mil itens divididos em 15 setores: 

Materiais de construção, madeiras, elétrica, ferramentas, tapetes, cerâmica, sanitários, encanamentos, jardinagem, ferragens, organização, pintura, decoração, iluminação e cozinha.

São 42 lojas Leroy Merlin espalhadas por onze estados brasileiros e o Distrito Federal, além do E-commerce, que atende todo o país. As lojas são equipadas com serviços especiais como mesa de bricolagem, fábrica de cores, espaço projeto, corte de madeira e vidro,coleta seletiva e drive-thru.

A preocupação com a sustentabilidade se reflete nos processos internos. Esforço que começa a ser reconhecido internacionalmente. São 23 lojas já receberam a certificação AQUA – Alta Qualidade Ambiental, considerada uma das certificações ambientais mais importantes do mundo

Por tudo isso, a Leroy Merlin se destaca como uma das melhores empregadoras do mercado varejista brasileiro, figurando no ranking anual Great Place to Work Brasil, divulgado em parceria com a Revista Época, de 2013 a 2019, ocupando o 23º lugar na lista das melhores em 2019.

O problema

De acordo com a International Business Report, apenas 25% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres.

67% das empresas não têm mulheres diretoras, segundo dados da FGV, o que mostra a baixa representatividade feminina em cargos de liderança no país.

Em contrapartida, a ambição feminina de crescer dentro das empresas é similar quando comparada à dos homens: 66% delas e 72% deles desejam chegar a líderes de negócios de nível sênior, de acordo com dados da Bain & Company.

Estes dados deixam a desejar e chamam a atenção para uma discussão necessária. Por isso, cada vez mais as organizações têm visualizado que falar em equidade de gênero é essencial para o mundo corporativo. 

Diante desse cenário, uma das metas da Leroy Merlin era justamente a de alavancar a liderança feminina. Mesmo sendo um processo desafiador, a empresa estava ciente dos tantos benefícios que a equidade traria para a Leroy.

Um estudo realizado pela McKinsey mostra que empresas com maior número de mulheres em seus Conselhos de Administração são mais lucrativas

Outro estudo, realizado pela OIT com 14 mil empresas, mostra que empresas com políticas de equidade de gênero têm resultados melhores. Verificou-se que, entre essas organizações:

No entanto, esse é um processo cheio de desafios. Quando falamos em equidade de gênero, alguns dos problemas enfrentados são:

As normas sociais e culturais

Tratando-se de uma empresa do segmento de construções, a Leroy Merlin representava um ambiente culturalmente e historicamente mais masculino. 

Autoconfiança

Muitas mulheres foram ensinadas, de forma inconsciente, que os homens podem mais. A falta de oportunidades igualitárias e a existências de vieses podem comprometer a autoconfiança e, para uma mudança de cenário, isso precisou ser ressignificado. 

Para superar esses desafios, o próximo passo foi a execução de algumas ações que fizeram total diferença nos resultados obtidos. 

A solução

Diante de problemas tão complexos e profundos, uma das principais soluções foi trabalhar os vieses inconscientes. Alguns dos principais vieses encontrados pelas mulheres nas organizações, segundo a Lean In, são:

Viés de desempenho

Nós tendemos a subestimar a performance das mulheres e superestimar a performance dos homens. Estudos mostram que mulheres são mais contratados por suas realizações (passado) e homens pela percepção de potencial (futuro). 

Viés de atribuição

Mulheres ganham menos crédito por suas realizações e são mais culpadas por suas falhas. As mulheres frequentemente sentem que têm que se provar mais que os homens e alcançar padrões mais altos de excelência. 

Viés de percepção

Existe a percepção que homens são mais assertivos e

mulheres são mais gentis e compassivas. Quando as mulheres escolhem ser mais assertivas, são menos gostadas e isso pode ter um impacto negativo em suas carreiras.

Duplo preconceito

Vieses não se limitam a gênero. As pessoas podem experimentar vieses sobre raça, etnia, orientação sexual, deficiência física ou outros aspectos de sua identidade. A discriminação composta pode ser significativamente maior do que a soma das partes.

Viés de afinidade

Nós gravitamos ao redor de pessoas com as quais temos afinidade de aparência, crenças e backgrounds. Considerando que homens brancos ocupam as principais posições de poder, o viés de afinidade tem um efeito particularmente negativo em mulheres e pessoas com diferentes cores de pele.

Trabalhando as crenças limitantes, tínhamos o objetivo de gerar mais protagonismo entre as colaboradoras, trazendo para a consciência pensamentos e ações que tomamos de forma automática e que prejudicam a ascensão das mulheres. 

Além disso, o objetivo era ir além de uma simples sensibilização e caminhar em direção a mudanças reais. Nossa metodologia foi o grande diferencial nesse processo, desenvolvendo competências essenciais para a liderança das participantes.

Com um grupo de 23 mulheres, lançamos o Programa Coaching de Liderança Feminina, com duração de 4 meses, com reuniões quinzenais e online. Foi um projeto contínuo que envolveu mentoria, workshops e sessões de coaching.

O Programa Coaching de Liderança Feminina contou com o alto engajamento das participantes. As sessões foram essenciais para desenvolver competências importantes como autoconfiança, networking e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

A estratégia de mentoria, realizada pelas próprias participantes, foi adotada em larga escala e considerada uma ótima ferramenta para multiplicar conhecimentos, gerar consciência e provocar a troca de experiências entre os vários níveis da organização.

O formato online também foi adotado, a fim de possibilitar a participação de todas as indicadas, permitindo a interação entre pessoas de várias regiões do país. 

Resultados

Como resultados, as participantes observaram ganhos relevantes na ampliação de consciência, autoconfiança, autoconhecimento, equilíbrio de vida pessoal e profissional, relacionamento interpessoal e planejamento de carreira e vida.

Essa mudança de comportamento foi expressiva e essencial para que 3 das participantes fossem promovidas durante o processo e 1 das participantes está em estado de prontidão para assumir um cargo de liderança. Ainda aguardamos novos resultados no balanço de março.

Celebramos esse case como uma das primeiras iniciativas da Leroy Merlin envolvendo mulheres com foco em liderança feminina. Camila Conte, Coordenadora de Desenvolvimento na Leroy Merlin, acredita que trabalhar com equidade de gênero traz benefícios para toda a organização:

“Cuidar da equidade aumenta a produtividade e a satisfação de homens e mulheres. As mulheres tendo mais repertório, protagonismo e segurança entregam mais e melhor, saem do papel operacional e passam a ser estratégicas também, não só por competências desenvolvidas, mas também por espaços que vão ganhando e conquistando.”

Em geral, a percepção de geração de resultados foi muito positiva, obtendo nota 9 na avaliação do processo, com destaque em “alcançou resultado em Equidade de Gênero”, com nota 9,7 de 10.

Além disso, líderes das participantes notaram mais segurança, convicção em suas opiniões, aumento no posicionamento e na liberdade de falar o que pensam. Outro ponto foi que o processo permitiu a própria expansão de consciência da liderança masculina:

“Eu a vejo mais crítica com relação às questões de vieses de gênero que surgem no dia a dia e o mais me chama a atenção é o quanto ela tem me ajudado a mudar algumas convicções ou mesmo me alertado para algumas posturas que tenho, que são enviesadas”.

Danilo Porto, sócio-diretor e head de Coaching da Crescimentum, conduziu todo o processo na Leroy Merlin e acredita que ter mulheres em mais posições de liderança contribui para pontos essenciais como inovação, cooperação, representatividade e equilíbrio:

“Tem um ponto importante que é a gente ter, dentro das empresas, a sociedade representada. Ter as mulheres em posições de liderança traz mais pontos de vista e, de certa maneira, equilibra um pouco mais a representatividade da sociedade. Um outro lado é que, quando falamos disso, criamos um espaço para alguns aspectos também nos homens. Um olhar mais integral, criativo e consciente”.

Como próximos passos, fica clara a oportunidade de se estimular outras discussões no sentido de ampliar a cultura sobre o tema, por meio da criação de um canal para troca de conteúdos sobre os temas abordados e para expandir os resultados.

Da mesma forma, a manutenção periódica de encontros entre as participantes será uma importante estratégia de sustentação da mudança

Acreditamos que existe muito trabalho pela frente para que, não apenas a Leroy Merlin, mas outras empresas do Brasil e mundo, possam adotar posturas mais equânimes. Nosso grande objetivo é muito bem expressado pela frase de Sheryl Sandberg: 

“No futuro não haverá liderança feminina. Haverá apenas líderes.” 

Por Dan Porto, sócio-diretor e head de Coaching da Crescimentum