Hoje, estima-se que, por dia, mais de 500 novos estudos sobre o cérebro surjam no mundo. A neurociência tem se tornado um dos temas mais relevantes para as organizações e, no atual contexto, essa pode ser a chave para a saúde de seus colaboradores e dos negócios!
Você, profissional de RH, sabe que tem a responsabilidade de cuidar das pessoas, e que isso é mais desafiador do que nunca. Em meio a uma pandemia que nos tira de nossas zonas de conforto, saber trabalhar as emoções a favor ambientes mais saudáveis é essencial.
Por isso, neste artigo, falo sobre como você pode levar as descobertas da Neurociência para o seu dia a dia. O objetivo é te ajudar a melhorar os resultados da sua organização, melhorando o funcionamento do cérebro daqueles que constroem esses resultados: as pessoas.
Por que a Neurociência é tão importante?
Não é segredo que a situação que estamos vivendo nos pegou de surpresa. O que talvez você ainda não saiba é que, consequentemente, isso afeta o nosso cérebro e a maneira como ele funciona.
Por isso, a neurociência tem sido um tema muito discutido no mundo todo. Afinal, tudo o que acontece com a gente passa por esse grande sistema que faz com que as coisas aconteçam: o cérebro.
O fato é que aproveitando melhor os recursos do cérebro, podemos também melhorar nosso funcionamento e, assim, tornar nossas organizações ainda melhores por meio das pessoas.
Recentemente, realizei um webinar sobre este tema e fiz a seguinte pergunta para todos que assistiram: que sentimentos e emoções vêm à sua mente quando falamos em pandemia? Cerca de 300 pessoas responderam, dizendo que esses são as principais:
- Medo
- Ansiedade
- Incerteza
- Insegurança
- Tristeza
- Oportunidade
- Preocupação
- Angústia
Perceba que que isso revela algo interessante em relação ao cérebro. Se você observar, a grande maioria das respostas acima são sentimentos e emoções conectados a um olhar mais negativa do que positiva.
Uma das coisas importantes sobre o nosso cérebro é que ele possui algo chamado “viés de negatividade”. Quando falamos sobre Coronavírus, isolamento, pandemia, a primeira coisa que vem para o nosso cérebro são coisas negativas.
Não saber o que vem a seguir impacta nosso cérebro de uma forma bastante intensa, porque ele gosta de previsibilidade.
De qualquer forma, o importante é que, sabendo desse viés negativo, podemos levar nosso cérebro a pensar de uma maneira mais positiva. Afinal, qualquer situação na vida possui aspectos positivos e negativos. A questão é: para onde estou olhando?
O viés de negatividade
Agora, precisamos entender por que o nosso cérebro possui o viés de negatividade. A principal função do nosso cérebro é nos manter vivos, levando-o a nos proteger e a trabalhar avaliando as ameaças e as recompensas.
E por isso, o cérebro está sempre bem mais atento às ameaças do que às recompensas. Não se trata de pessimismo, mas de uma característica natural do nosso cérebro para nos proteger.
Quando falamos de pandemia e isolamento, a primeira coisa que vem para o nosso cérebro é essa sensação de ameaça, mas a partir do momento em que esse viés negativo inconsciente, se torna consciente, podemos fazer algo!
Ajudando o seu cérebro a ressignificar esses momentos considerados “de ameaça”, ou seja, olhando também para o lado positivo, você consegue ajudar o cérebro a “ficar mais calmo” e ter mais resiliência.
Isso é especialmente importante quando pensamos em nossos colaboradores, já que quando ficamos reféns do viés de negatividade, nossa capacidade de criatividade e cognição fica limitada.
Precisamos, portanto, educar o nosso cérebro a olhar também para o “copo meio cheio”.
O que é dor social e como impacta a performance?
Todos nós, antes de seres humanos, somos seres sociais. E uma coisa muito importante em relação ao nosso cérebro é que, ao contrário do que muitas vezes pensamos, ele é mais social e emocional do que racional.
Mais de 90% das nossas decisões são emocionais e isso é provado cientificamente. Segundo os neurocientistas, o nosso cérebro é apenas 5% racional e 95% emocional e social.
Isso significa que a questão social é muito importante para o nosso cérebro e, quando mal resolvida, compromete fortemente a nossa capacidade cognitiva.
Ter essa consciência é extremamente importante para você, profissional de RH ou líder, já que você é responsável por ajudar as pessoas a se sentirem socialmente incluídas, pertencentes, respeitadas e parte do todo.
Uma das grandes descobertas da neurociência, realizada pela UCLA (Universidade da California, em Los Angeles), é o que chamamos de “dor social”, que para o cérebro é o mesmo que a “dor física”, produzida por uma exclusão, uma rejeição, discriminação, exclusão ou injustiça.
Grande parte dos problemas relacionados à pessoas no mundo corporativo, atualmente, tem a ver com isso. Basta observar os principais motivos de afastamento nas organizações; doenças relacionadas à mente e emoção, como Síndrome do Pânico, Burnout e depressão.
Reflita: quanto você, líder ou RH, tem contribuído para a dor social em sua organização?
Ampliar sua consciência sobre isso é muito importante porque, sem perceber, você pode estar causando dor social nas pessoas, colocando as pessoas em modo de sobrevivência, limitando a criatividade, cognição e potencial delas.
Por isso, para obter o melhor das pessoas, você precisa levar em conta a hierarquia cerebral, que passa pela sobrevivência e pertencimento, que só quando resolvidos, liberam as pessoas para tornarem-se suas melhores versões.
Como ajudar pessoas por meio da Neurociência?
Como líder e RH, portanto, o seu papel é ajudar as pessoas a não precisarem lutar pelo pela sobrevivência, e nem pelo senso de pertencimento.
Hoje, isso é muito desafiador porque, em um cenário totalmente inesperado, muitas pessoas retornaram ao nível da sobrevivência. Mas, ainda assim, você pode ajudar a mudar isso utilizando dicas da neurociência. Vamos lá!
1- Promova uma narrativa realista e otimista
A primeira dica é criar uma narrativa de que “isso vai passar”. Não significa que você estará escondendo ou deixando de lado tudo o que está acontecendo. O seu papel é ser um realista otimista!
O futuro é um lugar que construímos cotidianamente e essa construção depende da narrativa que estamos contando para nossos cérebros.
Afinal, é isso que determinará o nível de motivação, inspiração e criatividade das pessoas da sua organização, para que esse futuro seja o melhor.
2- Estabeleça momentos de conexões sociais positivas
Existe uma grande diferença entre estar perto e estar próximo. Neste momento, é importante praticar a proximidade, afinal, estar perto é apenas geografia!
Não é preciso estar trabalhando no mesmo ambiente físico para estar próximo e conectado de seus líderes e colaboradores. Aliás, muitas pessoas estão perto e, ainda assim, não possuem nenhuma conexão.
A proximidade é uma escolha diária. É seu papel escolher manter essa conexão e, especialmente, mostrar aos líderes a importância de manterem a proximidade com seus colaboradores, ajudando a fortalecer o viés de positividade.
Assim, você ajudará a gerar mais motivação, positividade e engajamento entre as equipes.
3- Incentive a prática de meditação
Essa é uma dica que eu daria independente do momento que estamos vivendo. Afinal, a meditação é uma forma totalmente natural de melhorar tudo daquilo que nos causa ansiedade no dia a dia.
Para que você tenha uma ideia, a meditação causa a ampliação do hipocampo esquerdo, o que melhora a aprendizagem, cognição e regulação emocional.
Além disso, essa prática amplia a empatia e compaixão. A meditação ajuda a diminuir o tamanho da amígdala, responsável pela ansiedade, estresse e medo.
Então, que tal incentivar os líderes a convidarem suas equipes para meditarem pelas manhãs?
Na Crescimentum, temos uma condução de meditação diária às 8h30 no nosso Instagram (@crescimentum). É uma meditação de 20 minutos que faz toda a diferença na nossa vida e dia a dia.
4- Demonstre a importância de cuidar da energia física
Quando falo de energia física, não quero dizer apenas de atividade física. Claro, a atividade física é extremamente importante, pois libera endorfina, o hormônio do bem-estar.
É muito importante que você incentive as pessoas a cuidarem de sua energia física e isso envolve a alimentação e o sono. Lembre as pessoas de elas devem se alimentar de uma forma saudável e dormir bem, afinal, o aprendizado se consolida no sono.
5- Ajude líderes a serem mais empáticos
Nossos cérebros já estão (todos, sem exceção) sob pressão por conta deste momento. Por isso, as pessoas devem ser mais empáticas consigo mesmas e com os outros.
Ajude os líderes a entenderem que as pessoas estão fazendo o seu melhor, assim como a liderança! É claro que o melhor de hoje é pior do que o melhor que estava antes, e seu líderes devem entender isso. Existem muitas coisas que ainda não sabemos e estamos aprendendo juntos agora!
Por isso, ajude a liderança a ser mais acolhedora, a se cobrar menos e a cobrar menos as pessoas. O papel do líder é apoiar as pessoas, com a consciência de que estamos todos aprendendo juntos.
6- Mostre a importância de estabelecer rituais
O nosso cérebro precisa de previsibilidade. Então, mostre para as pessoas a importância de manter uma rotina, definindo horários e atividades a serem feitas ao longo do dia. Pessoas devem estipular um horário para almoçar, dormir, trabalhar, meditar, se exercitar, e por aí vai.
Isso ajuda o cérebro a se acalmar um pouco mais. Lembre seus colaboradores de que o cérebro também precisa de dopamina, o hormônio da realização. Uma forma de gerar isso é tendo uma lista de tarefas e conseguir riscar itens ao longo do dia.
7- Ajude pessoas a evitarem notícias ruins
Não estou pedindo ou sugerindo que você incentive as pessoas a serem desinformadas ou alienadas. Apenas que elas parem de olhar notícias ruins! Mais do que a pandemia, temos uma infodemia que está sendo avassaladora.
Esse tanto de informação negativa reforma o viés de negatividade do cérebro. Por isso, ajude a sua organização a ver além disso, enxergando coisas positivas. Pessoas devem escolher bem que tipo de informação consomem neste momento.
8- Motive momentos de oscilação
As pessoas devem ter um tempo para diversão! O humor também gera endorfina, então mostre a elas a importância de tirarem um tempo para se divertir.
Saber oscilar energias é especialmente importante neste momento, já que o home office pode nos levar a trabalhar muito mais.
O cérebro precisa de oscilação e isso significa sair de uma energia para outra. Isso ajudará todos a serem, inclusive, mais produtivos em seu dia a dia.
9- Faça exercícios de gratidão
A gratidão pode ser trabalhada de diversas formas. Essa é uma das emoções mais nobres e fantásticas que o ser humano tem. Ela permite que a gente reconheça que aquilo que temos nesse momento é suficiente para que possamos nos sentir privilegiados.
Uma das questões do cérebro, é que ele se acostuma muito fácil com as coisas. No começo, sentimos uma certa dificuldade, mas depois isso se torna cada vez mais natural.
Por isso, é comum que a gente se acostume com a nossa vida, não percebendo pequenos privilégios que temos todos os dias.
Então, é muito importante que você faça as pessoas pararem em algum momento do dia, pensando em duas ou três coisas pelas quais são gratas. Coisas simples!
Isso aumenta o senso de realização e gera outros hormônios que fazem com que as pessoas se sintam mais felizes.
Gostou das dicas? Espero que esse conteúdo seja útil para você e seus colaboradores e que isso te ajude a construir times mais saudáveis, engajados e produtivos no momento em que pessoas e empresas mais precisam!
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Por Marco Fabossi, sócio-diretor da Crescimentum