Em um mundo caracterizado por incertezas e rápidas transformações, liderar deixou de ser uma tarefa simples. A urgência em navegar por complexidades crescentes exige lideranças não apenas preparadas tecnicamente, mas também equipadas com habilidades internas robustas que as guiem em suas jornadas.

É nesse contexto que os Inner Development Goals (IDGs) emergem como uma referência essencial, oferecendo um framework para o desenvolvimento das competências internas necessárias para enfrentar os desafios contemporâneos.

Inner development goals: a nova fronteira da liderança

Os IDGs não apenas suportam essa transformação interior, mas também conectam essa evolução aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforçando a necessidade de lideranças que possam promover resultados externos sustentáveis de forma integrada.

Inspirados pela agenda global dos ODS, que visa alcançar metas significativas até 2030, escolhemos este horizonte temporal como referência para o desenvolvimento de competências de liderança. Ele destaca nossa intenção de alinhar a transformação pessoal com um marco global, preparando-nos para enfrentar as complexidades do mundo moderno.

Pensando nesse tema tão importante, realizamos em novembro o Encontro de Liderança 2024, em parceria com a ABTD (Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento), para explorar abordagens práticas que alavancam a liderança em direção a um futuro mais sustentável.

Quais os maiores desafios da liderança hoje?

Durante esse Encontro de Liderança, realizamos uma série de pesquisas para identificar os principais desafios enfrentados pelas lideranças em relação às competências do framework Inner Development Goals (IDG). Ao analisar cada dimensão do IDG, descobrimos os seus principais desafios:

  • SER: 42% das pessoas indicaram “bússola interna” como principal desafio;
  • PENSAR: 31% apontaram “fazer sentido” e 27% “visão de longo prazo”;
  • RELACIONAR-SE: 38% optaram por “empatia e compaixão” como grande desafio;
  • COLABORAR: 38% identificaram “Confiança” como principal desafio nessa dimensão;
  • AGIR: 56% escolheram “Perseverança” como o maior desafio.

Em complemento, ao realizarmos o autodiagnóstico sobre as competências IDG, encontramos que os participantes atribuíam as menores notas aos seguintes comportamentos:

  • Motivação para participar de projetos de longo prazo com impacto futuro;
  • Persistência em desafios que exigem comprometimento a longo prazo;
  • Priorizar o coletivo sobre interesses individuais quando necessário;
  • Diversidade de perspectivas ao lidar com desafios;
  • Organização de informações e identificação de padrões em situações complexas;
  • Fortalecimento da conexão com o mundo;
  • Manutenção e comunicação de uma atitude otimista em relação ao futuro.

Você se identificou com esses desafios? Quais têm sido seus desafios de liderança hoje? Reconhecer essas áreas é o primeiro passo para a transição do estado atual da nossa liderança para um estado desejado e necessário para o futuro.

O que não pode faltar na liderança até 2030?

1- Autoconsciência e Autoconhecimento (Dimensão: SER):

Em minha palestra “Autoconsciência, minha bússola interna“, ressaltei a importância de identificar e refletir sobre os perfis disfuncionais de liderança brasileira revelados pela nossa pesquisa (2023): gestor(a) de coisas, liderança tóxica, liderança omissa e liderança burocrata.

A autoconsciência é essencial para que as lideranças reconheçam esses comportamentos em si e entendam seu impacto nas equipes e resultados. O evento de novembro reforçou que o autoconhecimento é o ponto de partida para qualquer mudança significativa na liderança, um tema unânime nas falas durante palestras e painéis, que destacaram a necessidade de iniciar essa jornada por si mesmo(a) para liderar de maneira eficaz.

Líderes autoconscientes estão mais bem posicionados(as) para promover a saúde e o bem-estar (ODS 3) no ambiente de trabalho, bem como assegurar educação de qualidade (ODS 4) através de uma cultura de aprendizado contínuo.

No dia a dia de liderança, isso significa implementar práticas como mindfulness, reuniões de feedback regulares e mentorias, ajudando as equipes a refletirem sobre suas próprias jornadas de autoconhecimento.

Você já se perguntou: quais comportamentos disfuncionais de liderança estou tendo hoje?

2- Consciência da complexidade e visão de longo prazo (Dimensão: PENSAR):

Na palestra sobre visão sistêmica, Luciano Santos destacou a importância de não fragmentar problemas em partes menores, mas sim adotar uma abordagem que considera o todo e amplia a visão sistêmica.

Para isso é necessário que a liderança reconfigure sua forma de enxergar o mundo e utilize a escuta como ferramenta para se conectar com outras pessoas e com o futuro que emerge. Além disso, Mari Damiati, em seu painel, abordou como as decisões estão se tornando cada vez mais complexas e destacou a importância dos valores e da cultura organizacional como direcionadores do coletivo.

Isso será cada vez mais fundamental para navegar na complexidade do dia a dia e sustentar um negócio perene, orientado por uma visão de longo prazo.

Líderes que abraçam a complexidade promovem inovação (ODS 9) e desenvolvem parcerias sólidas (ODS 17). Na prática, isso pode significar implementar workshops que incentivem a reflexão sistêmica, cultivando uma análise crítica das decisões e seus impactos.

Agora pergunte-se: minhas decisões estão realmente alinhadas a uma visão de longo prazo ou estou apenas respondendo a problemas imediatos?

3- Conexão e empatia (Dimensão: RELACIONAR-SE):

Em seu painel, Dan Porto destacou como a mentoria pode ser uma poderosa ferramenta para potencializar talentos.

Ele enfatizou que um(a) bom(a) mentor(a) precisa estabelecer uma forte conexão com o(a) mentorado(a), baseada em credibilidade, autenticidade e vulnerabilidade. Complementando esse tema, Henrique Bueno, em sua palestra “Liderança é responsável pela saúde mental das pessoas?”, reforçou a ideia de que, para cuidar de outras pessoas, líderes devem primeiro cuidar de si.

Citando Albert Schweitzer, ele lembrou que “dar exemplo não é a melhor maneira de influenciar os outros, é a única”, mostrando a importância do autocuidado como base para apoiar efetivamente o bem-estar das equipes.

Conectando essas práticas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, promover a empatia e a conexão humana no local de trabalho contribui para a boa saúde e bem-estar (ODS 3) e para a redução das desigualdades (ODS 10). Na prática, líderes podem implementar programas de mentoria que não apenas desenvolvam competências profissionais mas também incentivem discussões abertas sobre saúde mental e bem-estar.

Além disso, integrar práticas de autocuidado ao cotidiano da liderança, como pausas para reflexão e autoavaliação, demonstra um compromisso genuíno com a saúde mental própria e das equipes.

Ao refletir sobre suas práticas de liderança, pergunte-se: estou de fato me conectando de maneira significativa com minha equipe ou apenas mantendo interações superficiais?

Colaboração e mentalidade inclusiva (Dimensão: COLABORAR):

No painel de Aline Silveira, a colaboração foi destacada como essencial, apesar de desafios como o ego e individualismo. Conectar talentos requer segurança psicológica, promovendo inclusão e aprendizado.

A ideia de “se quiser ir rápido vá sozinho, se quiser ir longe vá junto” foi um destaque. Denise Asnis trouxe que entendendo as necessidades humanas universais, podemos superar divergências estratégicas. Branca Barão enfatizou a inclusão intencional, afirmando que “quando eu incluo o ser humano que você é, o seu trabalho será bem melhor“, destacando a importância de incluir vulnerabilidades.

Líderes que incentivam a colaboração e inclusão contribuem para igualdade de gênero (ODS 5) e redução das desigualdades (ODS 10). Implementar workshops de diversidade e sessões colaborativas pode fomentar ambientes onde todas as pessoas se sintam ouvidas e valorizadas.

Pergunte-se: estou criando espaço para todas as vozes serem realmente ouvidas?

Coragem e perseverança (Dimensão: AGIR):

Durante o evento, a perseverança foi identificada pelos participantes como um dos desafios mais significativos, destacando a importância da resiliência para atingir objetivos de longo prazo.

Ao mesmo tempo, a coragem é fundamental para superar obstáculos e implementar mudanças. Nossa programação foi especificamente estruturada para incentivar a transição de reflexões para ações tangíveis, ressaltando que novos conhecimentos só têm valor quando aplicados no dia a dia.
Todo o evento foi permeado pelo princípio do AGIR.

Além de discussões e insights, realizamos atividades práticas que incentivaram os participantes a desenvolverem seus planos de ação, concretizando a teoria em prática. Este compromisso com o AGIR leva não só a colocar em prática as IDGs, mas também a criar um futuro mais sustentável em direção aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para verdadeiramente liderar mudanças, pergunte-se: estou transformando meu conhecimento em ação concreta ou apenas acumulando informações?

Concluímos que a jornada rumo a uma liderança eficaz e transformadora não é apenas um destino, mas um compromisso contínuo com o desenvolvimento interno e a ação consciente.

À medida que navegamos por desafios cada vez mais complexos e dinâmicos, os Inner Development Goals oferecem um mapa valioso, guiando líderes na criação de ambientes inclusivos, resilientes e inovadores.

Ao internalizar essas competências e aplicá-las no cotidiano, cada líder não apenas se transforma, mas também inspira suas equipes e organizações a trilhar, juntas, o caminho rumo a um futuro mais sustentável e próspero.

Pergunte-se constantemente: como posso, hoje, ser a mudança que desejo ver no mundo?

Por Renato Curi, Chief Product Officer na Crescimentum