O mês em que as ações de saúde mental ganham mais visibilidade chegou: setembro.
Se você quer verdadeiramente falar de saúde mental precisa ampliar algumas perspectivas sobre esse tema para todos os meses do ano e olhar sobre os indivíduos que trabalham com você.
Já viemos falando por aqui da importância da temática de saúde mental nas organizações atualmente, seus porquês e consequências aos negócios.
Ampliando a dimensão do que é responsabilidade das lideranças, nesse artigo vamos apontar 5 caminhos para que você, líder, independente do seu segmento de atuação, possa oferecer mais saúde mental ao seu time.
Lembrando que inúmeros caminhos são possíveis quando se trata de apoiar as pessoas com diagnósticos ou não, com ideações suicidas ou não, mas entendemos que talvez esses cinco estejam já ao seu alcance, demandando de você um olhar atento e que não precisa ser de um especialista nas temáticas relacionadas ao suicídio, transtornos mentais, etc.
Vamos lá?
1- Estrada sem toxicidades: seus comportamentos podem ser tóxicos mesmo que não perceba ou queira
Uma das grandes “defesas” ao tentar apontar para a liderança seus efeitos sobre a saúde dos membros do seu time é trazendo suas próprias intenções e limitações nas interações.
Algo como “mas eu não sabia que ia magoar assim”; “mas eu não sou tóxico, sou mega gentil e atento”; “não sou uma pessoa agressiva assim”; “não sou eu que preciso fazer isso, esse olhar aí de cuidado é para profissional de RH, não para mim”.
Primeiro de tudo é que nem tudo que acontece é sua responsabilidade, líder, fato. Aqui na Crescimentum costumamos falar da Lei do 1/3 – 1/3 é seu, 1/3 do outro e o último 1/3 do ambiente, baseado no Círculo de Influência do Stephen R. Covey.
Então, o que for o seu 1/3 é seu mesmo. Mas isso não significa que o que você faz e as atitudes que toma te definem por completo. Nossa identidade é muito complexa para ser definida por um ou outro dia ruim.
Calma! Acontece que, trabalhando com gente e com o impacto que nossa hierarquia pode causar nas pessoas, podemos sim ter atitudes tóxicas que interferem profundamente no outro e, para sempre, o suficiente para você ser evitado, rechaçado, denunciado.Costumo dizer que a liderança sempre causa impacto, afinal, a empresa em si é feita de pessoas e, a liderança direta é a representação diária disso, do negócio.
A questão é: na maior parte dos seus dias, o impacto que gera nas pessoas é positivo ou negativo?
Você não precisa, e nem conseguirá, ser perfeito(a), líder, mas perceba se vai deixando um lastro de uma companhia e uma presença mais generosa, cuidadosa, saudável e atenta, ou alguém que gera repulsa, medo e vontade de acabar o dia em quem convive com você.
2- Sinal fechado para ‘piadas’ e falas que aumentam o estigma
Se você quer ser uma liderança que apoia de modo regular e sistemático a saúde mental das pessoas, observe como suas falas e seus silêncios podem, mesmo sem querer, aumentar o sofrimento e a vergonha de quem passa por sofrimentos psicológicos (ex: depressão, crises de pânico, transtorno de ansiedade generalizada, etc.).
Você é aliado(a) das pessoas em sofrimento? Você é indiferente a essa temática? Você é alguém que acha que falar de saúde mental hoje nas empresas é “mimimi”?
Há um paradoxo nas pessoas que sofrem com diagnósticos de transtornos mentais – quanto mais elas precisam de ajuda, menos elas pedem com medo de serem taxadas como menos capazes e ficarem marcadas para sempre, como aponta um estudo da McKinsey & Company: 37% não buscaram tratamento com medo das pessoas no trabalho descobrirem sua doença mental.
Então, líder, você pode ajudar a mudar essa realidade com suas atitudes intencionadas.
Ter a autoconsciência de reconhecer que você possui falas que perpetuam estigmas (como “depressão é falta do que fazer, é falta de Deus”; “lá vai o autista ficar no celular”; “a surtada resolveu trabalhar hoje”; “burnout é coisa de preguiçoso”), ou gestores homens que interrompem mulheres (temos uma matéria no Valor Econômico que cito essa problemática), ou noção de suas posturas que reforçam estereótipos de grupos minorizados (em relação a raça ou gênero), por exemplo, já é um primeiro passo importante.
Perceber-se falando é o seguinte. E, felizmente, quando você consegue parar de reproduzir falas que fazem pessoas sofrerem no ambiente de trabalho e nas suas vidas como um todo, uau, aí é conciliar seus valores pessoais, aquilo que acredita ser melhor para todos, com suas ações diárias. Inclusive inspirando quem te percebe mudando fazer o mesmo.
3- Caminho livre para letramento contínuo
Uma das grandes dificuldades da liderança ao ter treinamentos em saúde mental, gestão das emoções e temas mais ligados à subjetividade é, primeiramente, validar esses temas como temas igualmente importantes como assuntos mais técnicos, objetivos, robustos da área e do negócio.
Aqui começamos a apontar uma necessidade latente de maior envolvimento e humildade das figuras da gestão com tópicos humanos e de saúde que envolvem todos nós no meio corporativo.
Quanto tempo da sua vida, pensando no famoso “lifelong learning”, está sendo endereçado a te desenvolver para essas pautas atuais?
Quem você acompanha nas redes sociais para nas horas vagas irem te abastecendo de conhecimento genuíno e leve sobre esses assuntos? Como que no dia a dia você se provoca para sair da sua bolha (técnica, isolada, numérica e privilegiada)?
Você e sua área de RH podem contratar nós da Crescimentum para te ajudar nisso – temos treinamentos incríveis em saúde mental, inteligência emocional, segurança psicológica, por exemplo.
Mas será que dentro da sua jornada da vida, há espaço para o seu protagonismo na busca desse conhecimento? Intencionalidade? Disciplina?
Fica mais genuína qualquer transformação quando ela é de dentro para fora – como dizemos aqui na Crescimentum, a porta da mudança abre pelo lado de dentro. Então, mão na massa! Seu letramento, sua formação não é sobre você ir fazer faculdade de psicologia ou MBA em saúde mental, mas tenha sede de melhorar-se ao longo da vida. Ninguém fará isso por você e os ganhos são para sempre.
4- Radar nas demandas excessivas
Por mais que haja clima de trabalho leve, segurança psicológica para as pessoas serem quem são e correrem riscos interpessoais, se a demanda de trabalho é exorbitante, daquelas de tirar o sono e fazer as pessoas trabalharem basicamente da hora de acordar até a hora de dormir, temos uma grave bandeira vermelha ao adoecimento.
O melhor papel das lideranças é poder ser preventivo no que diz respeito aos riscos psicossociais inerentes ao ambiente de trabalho.
Ou seja, entender que se algum colaborador seu está fazendo o trabalho de 2 ou 3 pessoas e isso não se trata de um projeto em um curto período de tempo, esse talvez seja o primeiro e principal alerta para que a liderança possa atuar para suavizar o excesso das demandas e proteger a saúde mental dos seus.
Excesso de tarefas, de responsabilidades e de pressão, aumentam os níveis de cortisol e de adrenalina no nosso corpo, e é um terreno já conhecido que pode levar ao burnout e afastamentos.
Hoje em dia afirmamos que nem tudo é burnout, mas tudo pode ser estresse.
Logo, líder, repasse demandas, veja o que pode ser revisado para não ser feito por essa pessoa que já está chegando na linha da exaustão. Alinhe expectativas com seu time, prazos, flexibilize horários.
Afinal, sabemos que o workaholismo, ao longo do tempo, não se sustenta, tem efeitos na saúde física, aqueles famosos sinais de almoçar na mesa; só comer o que não é saudável porque não há tempo para cozinhar; não há tempo para um olhar para si e sua própria higiene, por exemplo – vira burnout, vira afastamento e é ruim para todos.
5- Velocidade máxima na humanização
Como está a sua agenda? Só tem coisas? Reuniões de indicadores? Revisão de KPIs?
Uow! Precisamos ter gente na agenda, como nos diz nosso sócio-diretor, Marco Fabossi.
São as pessoas que te darão os números e, sabendo aonde elas querem chegar, pode haver mais tranquilidade nessa conquista para todos, uma vez que você sabe das angústias e medos de cada um.
Quanto mais você precisar de resultados, mais olhe a sua agenda e suas priorizações.
Em mundo vivendo com 4 gerações ao mesmo tempo nas empresas (Baby Boomers, Geração X, Geração Y e Geração Z), o mantra “manda quem pode, obedece quem tem juízo” definitivamente não funciona mais a médio e longo prazo.
Cuidar da saúde mental não é cuidar de diminuir os números de afastamento, “bater meta” da sua área tendo menos pessoas doentes, etc. Melhorias nesses indicadores são consequências de uma jornada feita, de um olhar atento, cuidadoso e, por que não, os 4 passos que mostramos acima.
Em nenhum tema de liderança existe fórmula mágica, existe uma equação única, até porque o mundo muda muito rápido para que uma fórmula resolva tudo sobre as relações e suas necessidades.
Em saúde mental e em prevenção ao suicídio, menos ainda. Os seres humanos que estão ativos hoje no mercado de trabalho merecem um olhar sistêmico, ampliado e de mais consciência sobre seu mal-estar e bem-estar ao produzirem.
Lembre-se que você faz parte de um ecossistema, peça ajuda, sinalize que precisa de apoio, escuta, mentoria, etc. Afinal, uma empresa sobrevive sim de resultados e eles se dão através das pessoas. E pessoas saudáveis entregam de forma mais sustentável para o negócio.
Você, líder, é poderoso(a) para muitas pessoas que necessitam de alguém com um olhar humano para sua recuperação, que confie nas suas capacidades e entregas.
Às vezes, você é a única figura de referência na jornada de quem passa no seu caminho.
Você pode salvar vidas todos os dias, mesmo que nem saiba disso.
Por Laís Mascarenhas, psicóloga e trainer da Crescimentum