Aqui na ATD 2022, propósito é um dos temas da vez. Tive o prazer de assistir a algumas palestras hoje que foram um verdadeiro show sobre esse tema tão importante e vou compartilhar tudo com você.
Começando com a palestra da Britt Andreata! Essa é a segunda vez que assisto uma palestra dela e as duas coisas que mais impressionaram foram: o embasamento do seu discurso e sua capacidade de promover conexões com questões que afligem muitas pessoas.
Para falar sobre propósito, os primeiros minutos da palestra foram dedicados a contextualizar o tema considerando o mundo que vive uma pandemia, uma experiência que o mundo inteirinho vivenciou ao mesmo tempo, mas não da mesma maneira.
Além de pesquisas, ela trouxe muitas notícias que ressaltaram o quanto propósito e significado se tornaram temas urgentes.
As pessoas estão trocando seus empregos para ganharem menos, se isso lhes trouxer mais felicidade e mais conexão e se elas enxergarem significado no que estão fazendo.
A tal The Great Resignation ou a Grande Renúncia é um tema que assombra as empresas e, atualmente, já se fala de “Forever Resignation”, ou seja, o mundo não será o mesmo e as pessoas vão continuar “se apegando” à questão de encontrar significado naquilo que fazem.
Essa é uma realidade na geração Y e está ainda mais presente na geração Z.
4 fatores que tornaram propósito o tema da vez
Segundo Britt, foram quatro os fatores que impulsionaram a busca pelo propósito.
1- Pandemia
O primeiro deles foi a pandemia de uma maneira geral. As pessoas viveram o luto e as 6 fases do luto são: negação, raiva, barganha, depressão, aceitação e o significado. Ou seja, muitos de nós vive hoje a fase do significado.
2- Rotina
O fator número 2 foi a mudança na rotina. As mudanças na rotina provocadas pelo trabalho e estudo remoto afetaram as rotinas das conexões. As pessoas estão revisitando suas identidades e se perguntando “quem sou eu na fila da vacina?”.
Quem são as pessoas que quero no meu círculo? Quem são as pessoas com as quais dividirei minha vida?
3- Burnout
O fator número 3 foi o burnout, que tem índices cada vez mais crescentes. Em janeiro de 2020 ele afetava 53% das pessoas, em março de 2021, 70%, em setembro do mesmo ano ele afetou a vida de 89% dos trabalhadores.
Ou seja, provavelmente, você viveu o burnout ou está vivenciado ele nesse exato momento.
Aquele sentimento de exaustão emocional, cansaço físico, diminuição da sensação de realização, como se nada fosse suficiente, o trabalho se multiplicasse, você não se reconhecesse mais ou estranhasse sua performance e até aquela preguiça de enfrentar algumas batalhas… Então.
4- Crescimento pós-traumático
O quarto fator é o crescimento pós-traumático
Quando sobrevivemos a eventos traumáticos, espera-se que adotemos um desses 2 caminhos: “voltar ao normal”, o que chamamos de resiliência, ou “voltar melhor” que é a tal antifragilidade.
Esse processo de crescimento pessoal significa uma maior valorização da vida, aprofundamento dos relacionamentos, aumento da compaixão e altruísmo, novas possibilidades de propósito na vida, maior consciência e utilização dos talentos, desenvolvimento espiritual e crescimento criativo.
Nas organizações isso significa refletir sobre os impactos do “trauma” e o que podemos aprender com essa experiência, identificar um novo modus operandi, enxergar as oportunidades de reinvenção e reconectar pessoas e valores.
Quais os benefícios do propósito?
Esse bem-estar, segundo Britt, tem a ver com felicidade e gratidão e com propósito e significado. Felicidade e gratidão são formas de caminhar, significado é o por que continuar caminhando e propósito é a direção, para onde estamos indo.
Britt também explicou que ter e trabalhar por um propósito traz benefícios à saúde mental. Pessoas com senso de propósito sentem-se menos solitárias, ansiosas, depressivas e se cuidam mais.
Fisicamente também existem benefícios em ter um propósito forte: reduz tempo de hospitalização, probabilidade de doenças cardiovasculares, riscos de ataques cardíacos e por aí vai.
Ter um propósito é bom para pessoas e também para organizações. Elas se tornam mais resilientes, possuem maior saúde organizacional, aumentam o engajamento de pessoas e sua vontade em permanecer trabalhando ali.
6 dicas para fortalecer o propósito na sua empresa
Para finalizar, Britt compartilhou 6 estratégias para criar o senso de propósito nas organizações. Vamos lá:
- Ajude seus colaboradores a encontrarem seu propósito;
- Identifique e comunique o propósito da sua organização ressaltando o impacto positivo que ele tem no mundo;
- Ajude colaboradores e líderes a alinhar o que eles fazem, seu trabalho, com o propósito da organização;
- Identifique se existem incoerências entre o que se prega e o que se faz;
- Estimule os líderes a terem conversas sinceras sobre propósito e significado do trabalho;
- Ajude as pessoas a se reconectarem e a construírem relações positivas no ambiente de trabalho.
Toda essa conversa de propósito pra muita gente é cansativa ou clichê, mas Brit conseguiu mostrar com fatos e dados o quanto ela é urgente.
As organizações estão sofrendo com a perda de talentos, mas os talentos estão sofrendo com a falta de conexão e significado. Por outro lado, um volume gigante de pessoas está no “meio do caminho”.
O trabalho ocupa um terço da nossa vida, dar significado ou ajudar as pessoas a encontrar significado faz toda diferença tanto para as organizações e principalmente para os indivíduos.
É preciso lembrar que as empresas não são formadas por pessoas, as empresas são as pessoas.
Propósito por Jay Shetty
Para falar desse tema, a ATD também trouxe em uma de suas General Sessions, Jay Shetty. Ele morou 3 anos na Índia e viveu como um monge, meditando e estudando escrituras sagradas.
Jay começou sua apresentação reforçando conosco o poder das escolhas, do quanto podemos dar sentido à nossa vida escolhendo fazê-la ter sentido e fazendo um convite a rever nossos hábitos.
Aqui na minha cabeça pensante sempre vem aquela frase “aquilo que nos trouxe até aqui quase sempre é insuficiente para nos levar mais longe” e é incrível o quanto vivemos “apegados” ao passado. A pessoas, coisas e comportamentos.
Repetimos nosso padrão, não obtemos o resultado e culpamos o mundo por ser injusto. And repeat.
Costumo dizer o seguinte: se você não está gostando do que está recebendo da vida, preste atenção no que você está oferecendo a ela.
Jay, então, nos apresentou um acróstico (e eu adoro acrósticos) para nos ajudar no desenvolvimento de novos comportamentos. É o TIMES:
T de Thankfulness, ou seja, gratidão
I de Inspiração
M de meditação e mindfulness
E de exercício
S de Sleep, que é sono
T: Thankfulness
Para Jay, a gratidão precisa ser praticada, então vou deixar com vocês uma dica que ele deu na palestra.
Pense numa situação em que você sentiu muita gratidão, lembre do que aconteceu e de quem esteve ao seu lado ou te proporcionou ou te apoiou ao viver aquilo e agradeça.
Mande uma mensagem para um amigo dizendo o quanto você se sente grato e o que acontece e o quanto ele foi importante. Gratidão precisa ser sentida e praticada.
I: Inspiration
Em relação à inspiração, Jay contou que passou quase 1 ano ouvindo todos os dias, assim que acordava, o discurso do Steve Jobs em Standford. Isso fazia com que ele se sentisse inspirado.
Tem gente que escreve seu propósito na parede, no espelho do banheiro, na porta da geladeira. É preciso incluir na nossa rotina comportamentos que nos despertem inspiração: ler um livro, ouvir um podcast, conversar com alguém, etc.
Na Posiciona, temos um ritual para começar a semana. Toda segunda, às 8 horas, nos reunimos e nos inspiramos mutuamente. Isso dá um gás gigante.
M: Meditation
Muita gente fica surpresa quando digo que medito TODOS os dias, pelo menos uma vez ao dia. Tem gente que pensa “mas você é tão agitada”. Pois é, gente como eu, que pensa demais, fala demais, são as que mais se beneficiam da meditação.
Aliás, se você acha que meditação não é pra você, ou que você não consegue, você certamente é uma pessoa que PRECISA. 5 minutos por dia, parado, prestando a atenção na sua respiração vão mudar sua vida, vai por mim.
E: Exercise
A questão do exercício físico também costuma ser um tabu e normalmente as pessoas têm muitas desculpas para não praticá-lo.
Reservar alguns minutos do seu dia para cuidar do seu tempo, que é seu corpo, te permite ganhar inclusive em produtividade. Afinal, praticar atividade física é algo que ajuda o corpo e a mente.
Se movimente, vá a pé, suba a escada, envolva um amigo ou amiga, seu ou sua companheira… Pratique!!!
S: Sleep
Essa parada para recarregar as baterias é muito importante. Sabe quando você começa a errar com frequência ou está mais impaciente? Isso pode ser falta de sono. É preciso dormir diariamente um tempo suficiente para dar ao corpo e à mente um período de repouso.
Sobre todos esses novos comportamentos sugeridos por Jay eu vou dar uma reforçada. É uma questão de desejo, decisão, disposição, disciplina.
Você precisa querer promover uma mudança na vida, decidir quais mudanças irá implementar, ter disposição para seguir adiante na sua implementação e disciplina para praticar novos comportamentos que te levarão a colher os frutos desejados.
Não adianta ter vontade, se não tiver coragem, né?
3 jeitos de identificar seu propósito
Sobre como identificar seu propósito, Jay apresentou 3 pilares que ele considera fundamental.
1- Paixão
O primeiro deles é Paixão: paixão é o que faz nosso coração bater mais forte, o que nos deixa felizes, nos empolga, dá sentido ao nosso mundo.
2- Talento
Nesse momento, Jay convidou toda a plateia para se mover e criou quatro quadrantes que, pelo que entendi, estão muito conectados à metodologia DISC.
Primeiro ele dividiu o grupo em extrovertidos e introvertidos e depois separou esses dois grupos em: focados nas pessoas e focados nas tarefas. Sim, realmente é o DISC. A partir daí ele foi dando exemplos dos principais talentos de cada grupo:
- Os extrovertidos e focados nas tarefas/resultados são os altos D: pessoas com comportamento mais ativo diante das situações e que costumam tomar frente nas decisões.
- Os extrovertidos mais focados em pessoas que são os altos I: pessoas mais expansivas, comunicativas, que envolvem as demais e as influenciam com mais naturalidade.
- Os introvertidos e focado nas pessoas, ou altos S: pessoas mais estáveis, cuidadosas, observadores e carinhosas.
- E por último, os introvertidos e focados em tarefas, que são os altos C: pessoas que prezam pelas regras, agem de maneira exata e são detalhistas.
Cada perfil tem o seu talento e reconhecê-lo é fundamental. O talento é um presente e você o exerce quando demonstra ser quem você realmente é.
No trabalho, segundo a pesquisa apresentada pela Britt Andreata ontem, 61% dos trabalhadores sentem pressão para cobrir alguma parte de quem se é no ambiente corporativo.
Isso tem a ver com não aceitação por elas serem quem são, mas também influencia na demonstração dos seus talentos.
É aquela história atribuída a Einstein, se você pedir a um elefante para subir numa arvore ele vai passar a vida inteira sendo julgado como um incompetente.
3- Compaixão
E o terceiro pilar é a Compaixão que é quando você coloca sua paixão e sua expertise à serviço dos outros. Paixão é o que faz você feliz, o que faz bem a você. Compaixão é o que faz bem ao outro.
Em resumo, para Jay Shetty, propósito é a combinação entre Paixão, Expertise e Compaixão
Pra mim, essa palestra do Jay reforçou várias das minhas crenças sobre propósito. Sobre o porquê que é o que nos faz começar a fazer algo e sobre o pra quê que é o que nos faz continuar fazendo algo.
Costumo inclusive sugerir “se você não sabe para quê está fazendo essa coisa então pare de fazer essa coisa”. Aos líderes sempre fica a dica de “dê o contexto, explique o impacto de determinada tarefa no todo e como esse todo se conecta ao propósito da organização”.
Aos demais colaboradores é importante fazer a seguinte reflexão: questionem, entendam, busquem encontrar o significado das suas tarefas, do seu trabalho, mesmo diante de um trabalho chato ou difícil, nos sintamos motivados pelo impacto que iremos causar no negócio, na vida de alguém e até no mundo.
O significado que atribuímos à nossa experiência muda a nossa experiência. Propósito é combustível. Você concorda?
Não deixa de conferir lá no nosso YouTube a cobertura completa dos temas da ATD 2022. Até mais.
Por Carol Manciola, CEO da Posiciona e sócia-diretora da Crescimentum