Já pensou perder metade do seu time? É o que tem acontecido com muitas organizações e lideranças mundo afora: movimento conhecido mundialmente como A Grande Renúncia.

Como mostra a PwC, com 88% das empresas enfrentando turnover superior ao que enfrentavam antes de 2020, o cenário chega a ser assustador, não é mesmo? 

Mas o que tem causado isso e como reverter? Neste guia completo, te explico tudo que você precisa saber sobre o conceito e compartilho alguns passos de como evitar demissões no seu time e organização. Bora lá?

Primeiramente, a Grande Renúncia é…

Termo muito recente criado por Anthony Klotz, The Great Resignation é um movimento voluntário de demissão que teve início lá nos Estados Unidos em meados de abril de 2021, cresceu e também chegou ao Brasil.

Dá só uma olhada nos dados! Segundo uma pesquisa da Você S/A, hoje os brasileiros estão pedindo demissão em ritmo recorde: meio milhão por mês

Mas não é de agora que os números crescem. Os pedidos de demissão no Brasil estão aumentando desde de 2019, e tiveram um salto gigante entre 2021 e 2022: justamente os anos em que o mundo virou de ponta cabeça. 

A pandemia despertou reflexões sobre o papel do trabalho na vida das pessoas e trouxe um senso de urgência para a insatisfações que estavam engavetadas há muito tempo.

Mas vamos combinar: a pandemia foi sim um grande impulsionador de reflexões para nossas vidas, mas ela não é a única e exclusiva motivadora da grande renúncia. Vamos entender melhor o que está por trás desse cenário?

Quando juntamos todos os fatores e vemos a equação, temos um resultado chocante: sobram vagas e faltam pessoas.

A Microsoft fez uma pesquisa global e descobriu que, em 2021, 40% da força de trabalho estava considerando deixar o emprego. O número sobe para 43% em 2022. Uma pesquisa do Robert Half aponta que no Brasil, o número é ainda maior: 49%.

Ainda temos o Relatório de Tendências em Gestão e Pessoas 2022 GPTW que mostra que, em 2022, 59% das empresas pretendem aumentar o número de pessoas, mas 68% delas têm dificuldade para preencher as vagas abertas.

E por que as pessoas estão se demitindo?

À medida que o movimento avança, líderes e profissionais de RH estão lutando para entender os fatores que estão fazendo as pessoas pedirem as contas, e descobrir formas de manter e engajar talentos.

Mas, afinal, o que tem levado as pessoas a largarem o trabalho? Existem diversos motivos!

Mas talvez você já tenha pensado em alguns como, remuneração, valores e liderança despreparada. Acertei? 

A verdade é que sim, esses fatores contam, mas quero te mostrar alguns resultados de pesquisas!

Remuneração é importante? É, mas não é tudo. Dados da Gallup mostram que 63% das pessoas deixam as empresas por motivos não-financeiros. 

Boa parte dos profissionais largam seus empregos por:

  • Relacionamento com a liderança;
  • Falta de autonomia;
  • Cultura Organizacional;
  • Bem-estar e equilíbrio entre vida e trabalho;
  • Trabalho remoto;
  • Excesso de inovação (fonte: MIT).

Tudo depende do meio em que você está inserido. Mas existe algo em comum: estamos vivendo um questionamento coletivo sobre qual o sentido da vida e a nossa relação com o trabalho.

2 principais motivos da Grande Renúncia

As pessoas se demitem por n motivos, isso você já sabe. Mas aqui vamos falar sobre os principais fatores para elas se demitirem fazendo jus à grande renúncia. 

1 – Cultura tóxica

Uma pesquisa muito interessante do MIT mostra que o principal fator para a Grande Renúncia é, justamente, a cultura tóxica. 

A título de conhecimento, os outros fatores são insegurança no trabalho, falha em reconhecer o desempenho e má gestão em relação ao COVID-19.

Mas, o mais legal desse estudo é que os fatores analisados foram comparados ao fator remuneração e, mesmo assim, se mostraram mais relevantes na hora de decidir sair ou não da empresa.

Mas você pode se perguntar, que raios é uma cultura tóxica?

Sabe aquele assunto que parece óbvio, mas que ninguém fala diretamente? Pois é, esse pode ser um desses. Por isso, vou deixar algumas perguntas para você pensar sobre:

  • Você já se sentiu excluído em uma reunião ou evento?
  • Já foi retaliado por desafiar o status quo?
  • Você já foi punido por um erro inédito?

Essas perguntas são simples, mas são um ótimo indicador para analisar a cultura de uma empresa. 

E detalhe, falar que é tóxico não é só da boca para fora, é científico. Sabe por que? Porque está vinculado a toxinas. 

Quando sentimos sensação de ansiedade e insegurança, nosso corpo libera o cortisol (hormônio do estresse), que interfere no funcionamento do córtex pré-frontal, a parte do nosso cérebro responsável pela atenção e raciocínio.

Mas não quero só te deixar com a teoria, a ideia aqui é te ajudar a fugir da cultura tóxica. Por isso, separei 6 passos para construir uma cultura saudável. Olha só:  

1- Avalie se a cultura organizacional é tóxica 

2- Tenha discussões amplas sobre a cultura desejada 

3- Humanize as relações permitindo que haja mais vulnerabilidade 

4- Trabalhe ativamente em aspectos relacionados à diversidade e inclusão 

5- Dê voz aos colaboradores permitindo que participem das decisões

6- Prepare a liderança para um novo modelo de gestão

Esse último passo, aliás, está interligado ao segundo maior impulsionador da grande renúncia: a própria liderança.

2- Liderança

Liderança e cultura são dois lados da mesma moeda. 

Edgar Schein.

Que as crenças da liderança influenciam seu próprio comportamento, é fato. Mas outro fato é que essas crenças também vão influenciar o comportamento dos colaboradores e colaboradoras. 

Então, podemos combinar que a se a cultura é o conjunto dos comportamentos dentro das empresas, percebemos que o denominador comum é a liderança

Um exemplo maravilhoso dessa influência é o próprio home office. Ele já era uma possibilidade antes da pandemia, até porque a tecnologia já estava disponível, mas quantas lideranças acreditavam que se os times estivessem remotamente trabalhariam menos? Hoje, provamos até o contrário!

Mas vamos à parte em que a liderança impacta nos números de demissões. Para isso, quero te mostrar duas pesquisas:

Uma da Gallup que mostra que 7 a cada 10 pessoas não acreditam que suas opiniões são consideradas no trabalho, e outra da Deloitte aponta que 85% dos profissionais em todo o mundo não estão engajados com seus trabalhos.

Ambos os dados são reflexos do papel da liderança e como aponta a Forbes, as pessoas estão saindo por causa de uma liderança decepcionante.

Pensando nisso, trago o que nós temos feito dentro dos programas de liderança para resolver alguns desafios: o famoso 6A’s da liderança.

1- Aproximar 

A ideia aqui é criar e humanizar relações de confiança, demonstrando vulnerabilidade.

2- Alinhar

Estabeleça diretrizes claras para que haja equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

3- Alavancar

Pessoas gostam de ter autonomia. Ofereça desafios que permitam aprendizagem constante.

4- Acompanhar

Ter métricas de resultado e impacto e não horas de trabalho. É sobre estar atento às questões relacionadas à saúde mental.

5- Avaliar 

Oferecer oportunidade de carreira e promoção, sem negligenciar quem atua à distância, principalmente agora com o modelo de trabalho híbrido. 

6- Autoconhecimento

Conheça seus pontos fortes e pontos de desenvolvimento. 

 

Um resumo de tudo isso é que a grande renúncia está atrelada ao autoconhecimento e redefinição do que é sucesso para cada pessoa. E vale lembrar que cada pessoa tem o seu conceito do que é sucesso.

No final das contas, o aumento dos pedidos de demissão é uma mensagem clara para as empresas: é preciso mudar o modelo de gestão.

Não é à toa que o conceito de renúncia está muito ligado à desistência do formato de relação que a gente desenhou do trabalho com base no poder e na submissão.

A essa altura do campeonato, uma coisa precisa estar bem clara: a forma como a gestão fluiu até hoje não será a mesma no futuro. 

 

E aí, gostou do conteúdo? Espero que sim! Compartilhe com outros profissionais que também têm enfrentado esse desafio!

Por Veronica Ahrens, sócia-diretora da Crescimentum