Por Marco Fabossi, sócio-diretor da Crescimentum

Uma menina segurava duas maçãs. Sua mãe então lhe pediu com voz doce e um belo sorriso:

– Querida, você poderia dar uma de suas maçãs pra mim?

A menina então olha por alguns segundos para sua mãe e, subitamente, morde uma das maçãs e logo em seguida a outra.

A mãe sente seu rosto esfriar e perder o sorriso, e tenta não mostrar sua decepção, quando sua filha lhe oferece uma de suas maçãs mordidas, e diz:

– Essa é a mais doce!


Sinto dizer, mas você e eu somos preconceituosos e temos vários vieses inconscientes, a favor ou contra algo, alguém ou algum grupo, e que geram resultados negativos ou positivos.

Vieses que impactam diretamente o nosso cotidiano pessoal e profissional. E a neurociência nos ajuda a compreender porque isso acontece.

Nosso cérebro precisa lidar com muitas coisas ao mesmo tempo, são milhares de informações por segundo e, para dar conta de tudo, ele cria padrões que considera mais importantes em forma de “atalhos”, para que então possa reconhecê-los rápida e automaticamente; é o que chamamos de piloto automático.

O problema é que esses atalhos são naturalmente tendenciosos, já que são adquiridos com base em experiências, cultura, educação, ambiente e aprendizados, formando o sistema de crenças que define nossos comportamentos: são os nossos vieses inconscientes.

É por isso que temos a tendência e a preferência de nos aproximarmos de pessoas que sejam mais parecidas conosco, e com elas criarmos uma conexão mais rápida.

O problema é que a recíproca é também verdadeira; temos uma forte tendência a nos afastar de pessoas que são diferentes ou com as quais criamos um “preconceito automático” e inconsciente.

De acordo com estudo realizado na Universidade Carleton, em Ottawa, Canadá, esses gostos e aversões inconscientes levam menos de 1/20 de segundo para serem estabelecidos pelo cérebro, ou seja, é praticamente impossível evitar o viés inconsciente ou preconceito automático.

Mas como dizia o sábio Geraldo Fabossi, meu pai, “você não pode impedir que um pássaro pouse na sua cabeça, mas pode evitar que ele faça ninho”. Em outras palavras, é praticamente impossível evitar o viés inconsciente, mas é plenamente possível pensar sobre ele, e decidir que fim daremos a este pensamento.

E quando falamos em liderança, torna-se imprescindível buscar maior consciência e aprender a lidar com nossos vieses inconscientes, porque se deixarmos que o “preconceito automático” naturalmente influencie e defina nossos pensamentos e comportamentos, existe uma grande probabilidade de sermos injustos e tendenciosos, principalmente em relação às pessoas.

O segredo então é começar a separar algum tempo pra analisar nossos pensamentos, algo que normalmente não fazemos no dia a dia. Começar a perguntar-se e responder sinceramente:

“Por que eu tenho pouca paciência com essa pessoa? Por que eu não gosto de ficar perto dela? Por que eu dedico mais tempo e energia a esta pessoa e não àquela? Por que eu me sinto inseguro quando estou perto dessa pessoa? Por que eu consigo me controlar com meu chefe, mas perco a compostura com minha equipe? Por que eu resisto tanto às opiniões dessa pessoa? Por que eu geralmente resisto à novas ideias e mudanças? Por que eu não gosto de ser contrariado em minhas opiniões?”.

Enfim, pensar sobre os vieses inconscientes, e questioná-los, porque nenhum deles é uma verdade absoluta, apesar do seu cérebro achar que sim. E, ao tornarem-se conscientes e questionados, com o tempo, novos “atalhos”, agora menos tendenciosos e preconceituosos, tendem a se formar.

E, à medida que esses novos atalhos menos tendenciosos e negativos são utilizados, eles começam a se tornar o comportamento de menor esforço, o novo padrão do cérebro. Mas para isso é necessário o esforço consciente de exercitar este novo hábito. Essa é a chamada Neuroplasticidade e recentemente publicamos um artigo sobre esse assunto, chamado de O Cérebro não tem Calendário.

Reflita sobre isso. Bons pensamentos!